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Análise Bíblica em Efésios



1. Histórico, Geopolítico e localização de Éfeso




Éfeso era um importante porto na costa oeste da Ásia menor, localizada perto da atual Izmir. Tratava-se de uma das sete igrejas e quem Jesus endereçou suas cartas em Apocalipse 2-3, um fato relevante para estudar esta epístola, uma vez que ela circulou originalmente para quase o mesmo grupo de igrejas.


   Embora Paulo já tivesse estado em Éfeso antes (Atos 18.21), ele foi ministrar lá pela primeira vez em 55 d.C. Lá ministrou por cerca de dois anos inteiros (At 19.8-10), desenvolvendo um relacionamento tão profundo com os efésios que sua mensagem de despedida a eles é uma das passagens mais emocionantes da Bíblia (Atos 20.17-38).
Assim, Éfeso era uma cidade portuária estratégica, tão importante quanto às cidades.
A igreja de Éfeso situava-se no extremo ocidente da Ásia Menor (na atual Turquia), e era o porto mais importante no mar Egeu, na principal rota entre Roma e o Oriente.

2. Autoria, data de confecção e destinatário



Entende-se, assim, que a partir do segundo século esta epístola já era aceita quase que universalmente sob o título de “Aos Efésios”. Entretanto, há indícios de que possivelmente não tenha sido este o título verdadeiramente original, e de que, pelos menos até certo ponto, trata-se de uma designação incorreta.
O mais antigo manuscrito de Efésios que possuímos é o papiro “Chester Beatty” de cerca do ano 200. Já Márcion[1] se refere a essa carta como “carta aos Laodicenses”.
Já no segundo século, essa carta era conhecida como “Aos Efésios”. Acredita-se que fora uma carta circular, que ao chegar à região de destino na Ásia menor, o destinatário preenchia com o nome da igreja. Embora não se possa precisar o real destinatário, acredita-se que tenha sido omitido o destinatário, para que circulasse numa região provincial, cuja principal cidade da região era Éfeso e por ser uma carta, é naturalmente entendida como destinada a alguém.
Assim, quando chegamos ao terceiro século, encontramos o grande erudito da Bíblia, Orígenes, a dizer que as palavras “em Éfeso” não se encontravam nos manuscritos que ele conhecia. Tertuliano, na mesma época, acusou os marcionistas de terem mudado o título, mas não fez referência ao texto. Basílio e Jeronimo, no quarto século, deixam claro que os melhores manuscritos que tinham à mão não incluíam essas palavras. Contudo, os grandes códices do mesmo século, Sinaítico e Vaticano, e algumas outras fontes autorizadas, não têm as palavras “em Éfeso” de 1.1.
Se imaginarmos, assim, esta epístola sem as palavras em 1.1, ou sem título, teríamos que admitir não haver provas claras, a partir do conteúdo da carta, de ela ter sido enviada a Éfeso e, sim, boas razões que surgem de que ela, dificilmente, teria sido destinada apenas à igreja naquela cidade.
Portanto, entende-se que durante três anos Paulo morou e trabalhou em Éfeso (At 19 e 20.31). Assim, esta carta circular, datada de 60-61 d.C., foi inspirada por Deus e escrita por seu servo Paulo. Nessa ocasião, já fazia 30 anos que ele havia se convertido ao cristianismo. Assim, já fizera três viagens missionárias, nas quais estabelecera várias igrejas ao redor do Mediterrâneo.
Concluímos, após leituras das cartas paulinas que, todas começam de maneira semelhante, seguindo a escrita epistolar de seu tempo, ele menciona primeiro o escritor, depois o leitor e depois vem a saudação. Entretanto, tal maneira é posta num nível mais alto. Escritor e leitor são mencionados a partir do ponto de vista de seu relacionamento com Deus em Cristo, e a saudação convencional tornou-se uma benção cristã. Em tal ocasião, quando escreveu aos Efésios, Paulo estava preso em Roma (At 28.16)
Tal carta fora escrita no período ao qual “esteve preso” em Roma. Mas, apesar de ser prisioneiro, tinha a liberdade de receber visitas e escrever cartas. E uma delas teve como destinatário a igreja de Éfeso[2] e aos crentes de toda a parte. Paulo escreve a epístola estando preso em Roma.

Percebemos, então, que os três primeiros capítulos se ocupam em ressaltar e engrandecer a graça divina, mas antes, como de costume, gasta tempo com as suas saudações, embora aqui, tenha sido breve, diferente de algumas outras de suas cartas.
Parece muito mais um sermão sobre os amplos temas para o cristão – o eterno propósito de Deus, o qual está cumprindo por meio de Seu Filho Jesus Cristo, através da reconciliação do ser humano. Vendo, assim, Jesus como instrumento de Deus para confundir e derrubar poderes malignos.
Portanto, Paulo visitou essa cidade pela primeira vez em sua segunda viagem missionária (At 18.19-21).

3. Propósitos

Paulo escreveu esta carta aos cristãos de Éfeso e aos outros crentes de todos os lugares para lhes transmitir um abrangente ensino sobre como deveriam alimentar e manter unidade da igreja. Desejava deixar por escrito essa importante recomendação, porque estava na prisão por ter pregado as Boas Novas e por não poder visitar as igrejas pessoalmente.
Pode se dizer que, as palavras “em Éfeso” não estão presentes em alguns dos primeiros manuscritos, portanto, provavelmente essa era uma carta circular. Foi primeiramente enviada à Éfeso e, em seguida, às demais igrejas vizinhas.
Fica-nos claro que Paulo não faz menção a nenhum problema em particular ou a circunstâncias locais. Também não deixa nenhuma saudação especial. Assim, com tal escrito, pôde fortalecer a fé cristã dos crentes de Éfeso e explicar a natureza e o propósito da igreja, o corpo de Cristo.
De igual forma, tal epistola paulina revela o “mistério” da igreja como nenhuma outra epístola fez. A intenção “secreta” de Deus é revelada; são elas:

1º formar um corpo para expressar a plenitude de Cristo na Terra (1.15-23).
2º fazer isso unindo as pessoas – tanto os judeus quanto os gentios, dentre os quais Deus habita (2.11; 3.7).
3º equipar, habilitar e amadurecer seu povo a fim de que eles entendam a vitória de Cristo sobre o mal (3.10-20; 6.12-20).

Em suma, o propósito imediato de Paulo ao escrever Efésios está implícito em 1.15-17. Em oração, ele anseia que seus leitores cresçam na fé, no amor, na sabedoria e na revelação de Deus. Almeja, com isso, que vivam uma vida digna do Senhor (4.1-3; 5.1 e 2). Portanto, procura fortalecer neles a fé e os alicerces espirituais ao revelar a plenitude do propósito eterno de nosso Senhor na redenção “em Cristo”, à igreja e cada crente.

4. Esboço

I. Unidade em Cristo (1.1-3.21)
Saudações (1.1,2)
Doutrina Basilar – A redenção do crente (1.3-3.21)
Sua preeminência de Cristo na redenção (1.3-14)
Sua preeminência no plano do Pai (1.3-6)
Sua preeminência na participação do crente (1.7-12)
Sua preeminência na concessão do Espírito (1.13 e 14)
Oração: pela iluminação espiritual do crente (1.15-23)
Os resultados na redenção em Cristo (2.1-3.21)
Liberta-nos do pecado e da morte para uma nova vida em Cristo (2.1-10)
Reconcilia-nos com os que estão sendo salvos (2.11-15)
Une-nos em Cristo, numa só família (2.16-22)
Revela a sabedoria de Deus através da igreja (3.1-13)
Oração: pelo êxito espiritual do crente (3.14-21)
II. Unidade do Corpo de Cristo (4.1-6.24)
Instruções Práticas – A vida do crente (4.1-6-20)
A nova vida do crente (4.1-5.21)
Em Harmonia com o propósito de Deus para a Igreja (4.1-16)
Uma nova vida de pureza (4.17-5.7)
Vivendo como filhos da luz (5.8-14)
Cautelosos e cheios do Espírito (5.15-21)
O relacionamento familiar do crente (5.22-6.9)
Esposas e Maridos (5.22-33)
Filhos e Pais (6.1-4)
Servos e Senhores (6.5-9)
A guerra Espiritual do crente (6.10-20)
Nosso aliado – Deus (6.10-11)
Nosso inimigo – Satanás e suas Hostes (6.11 e 12)
Nosso equipamento – Toda a armadura de Deus (6.13-20)
Conclusão (6.21-24)

Nesta carta, Paulo explica as bênçãos maravilhosas que recebemos por intermédio de Cristo e faz referências à Igreja como um corpo, um templo, uma noiva e um soldado.
Tudo isso para ilustrar a unidade de propósitos e mostrar como cada membro, individualmente, é parte de um todo que deve trabalhar em conjunto com as outras partes. Devemos, em nossa vida, trabalhar para erradicar toda calúnia, mexericos, críticas, ciúmes, ira e mágoas porque representam barreiras à unidade da Igreja.
Tal carta é um dos picos elevados da relação bíblica, ocupando lugar único entre as epístolas paulinas. Ela não foi elaborada no árduo trabalho, pelo contrário, transmite, por conseguinte, a impressão de um rico transbordar de revelação divida, brotando da vida de oração de Paulo. ele escreveu a carta quando estava aprisionado em Cristo (3.1; 4.1; 6.20), provavelmente em Roma – como já fora citado antes.
Efésios tem muita afinidade com Colossenses e, talvez tenha sido escrita logo após esta. As duas podem ter sido levadas simultaneamente ao seu destino por um cooperador de Paulo chamado Tíquico (6.21; cf. Cl 4.7).

5. Tema

Como grande tema da carta paulina, desde a introdução (1.2) à oração final (6.24), é por graça, a graça com que esta principiou, e que foi o tema de toda ela.
E é através desta graça que podemos alcançar a salvação, mediante a fé. E através disso, apontaremos alguns tópicos relevantes para o melhor entendimento do tema central desta carta.

5.1. O propósito de Deus

De acordo com o afetuoso e eterno plano de Deus, ao qual ele exige, executa e mantém a nossa salvação podemos ressaltar algumas características daquele que alcançou a graça divina: a resposta ao amor de Cristo com confiança, seu propósito se torna nossa missão.
Com tal propósito, surge uma grande questão: Será que nós já nos comprometemos com a realização do propósito divino?

5.2. Cristo, o centro

Cristo é exaltado como o centro do universo e o foco da história. Ele é a cabeça do corpo, isto é, a igreja. De tal forma, também, é o criador e o mantenedor de toda a criação.
Por conseguinte, precisamos entender que, como Cristo está no centro de tudo, seu poder deve estar em nosso interior. Para tal, devemos começar colocando todas as nossas prioridades, desejos e vontades sob o seu controle.

5.3. A igreja está Viva e em Atividade

Paulo descreve a natureza da Igreja. Sob o controle de Cristo, ela é um corpo atuante, uma família, um lar. Deus concede aos cristãos a capacidade especial de edificar a sua Igreja.
Por isso, concluímos que somos parte do corpo de Cristo e, por tal motivo, devemos viver em uma unidade vital com ele. Nossa conduta deve ser condizente com esse relacionamento. Assim, devemos usar a capacidade que recebemos de Deus para preparar os cristãos para a obra do Senhor. Que venhamos a cumprir o ide do Senhor.

5.4. Nossa Família

Como Deus, por meio de Cristo, redimiu nossa culpa pelo pecado e nos perdoou, fomos reconciliados com ele – ou seja, fomos trazidos para perto dele. Com isso, formamos uma nova sociedade, uma nova família. O fato de estarmos unidos a Cristo significa que devemos tratar um aos outros como membro da mesma família.
Entende-se que, formamos uma mesma família em Cristo, portanto não devem existir barreiras, separações ou quaisquer motivos para discriminação. Todos nós pertencemos a ele. Assim sendo, o nosso dever é viver em harmonia uns com os outros.

5.5. Conduta Cristã

Paulo nos encoraja ter uma criteriosa dinâmica vida cristã, pois, ao lado do privilégio, está a responsabilidade com a família. Como pertencemos a uma comunidade, devemos viver de acordo com os novos padrões de Cristo.
Contudo, Deus nos concede o Espírito Santo para que possamos viver conforme a sua vontade. Para utilizar o poder do Espírito, devemos abandonar nossos desejos iníquos e prosseguir em nossa nova vida. Fica-nos claro, então que, precisamos nos submeter à vontade de Cristo e procurar amar ao próximo como a nós mesmos.

6. Bibliografia

CALVINO, João. Efésios. Tradução: Valter Graciano Martins. Edições Paralelos, São Paulo/SP – edição: 1998.

FOULKES, Francis. Efésios. Introdução e Comentários. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo/SP – edição: 2007.

HAHN, Eberhard. Carta aos Efésios e Colossenses. Tradução: Werner Fuchs. Editora Esperança, Curitiba/PR, edição: 2006.






[1] Influente líder cristão, suas ideias o conduziram à exclusão, em 144 d.C. Assim, formou uma escola gnóstica – aceitou no seu Cânon 10 cartas paulinas e uma versão modifica do evangelho segundo Lucas.
[2] Éfeso – ao qual tem o significado de desejável – era uma das cinco maiores cidades do Império Romano, ao lado de Roma, Corinto, Antioquia e Alexandria.

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