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Evangelho de João 
 



Autoria
 
O Autor do quarto evangelho é João. Ele era antes um pescador por profissão, que depois também veio a tornar-se um dos Doze Apóstolos (Mt 4.21-22). Ele era também um dos membros do círculo mais íntimo do discipulado de Jesus, entre os apóstolos (Mt l7.1,50; Jo 13.23). 
  Considerando a característica ênfase de João no amor entre o Pai e o Filho, amor de Deus para com o homem, e amor do homem para com Deus e o próximo, a profunda transformação ocorrida na vida de João, no decorrer de seu relacionamento com Jesus, merece uma especial atenção (Lc 9.52-54 c/ I Jo 4.7). 
  Como acontece com os outros três Evangelhos, o nome do autor não é dado no corpo da obra. Porém, o suporte à autoria de João, o Apóstolo, por parte dos Pais da Igreja é também de grande valor. Entre os Pais da Igreja que afirmam a autoria de João está Irineu, discípulo de Policarpo; este último foi discípulo do próprio Apóstolo João. Além Irineu e Policarpo, podemos citar os seguintes Pais e documentos: Clemente de Alexandria, Orígenes, Hipólito e outros; O Cânon Muratoriano (170 DC); Papiros Rylands (135 DC).        
Evidências da autoria de João: 

Ø  Seu autor é judeu –  a) seu modo de pensar é semítico; b) há palavras hebraicas e aramaicas no evangelho que nele são explicadas; c) ele conhece profundamente as tradições, a religião e as festas judaicas, bem como a geografia da Palestina; d) ele conhece também os sentimentos dos judeus para com os samaritanos. 
Ø  O Autor foi testemunha ocular dos fatos descritos neste Evangelho (1.14;19.35).
Ø  O termo “discípulo amado” se aplica melhor a João, pois ele estava entre os três do círculo mais íntimo de Jesus. Quanto aos outros dois; Tiago, já há muito, havia sido martirizado (At 12. 1-5), e Pedro que é frequentemente citado na 3a pessoa, em 21.20 é também claramente distinguido do “discípulo amado”; além disso, Pedro também não se encaixa no perfil psicológico do autor do quarto Evangelho, como acontece com João. Certamente, ao chamar-se “discípulo amado”, João se refere ao imerecido amor de Deus por pecadores.
 
João, depois do Apóstolo Paulo, foi quem mais obras escreveu no Novo Testamento. Porém, João é notável pelo estilo variado das obras que escreveu, ou seja, o seu Evangelho (que é bastante distinto dos outros três), as três cartas e o único livro apocalíptico do NT. Entretanto, a ênfase ao amor e a referência a Jesus Cristo como o Verbo de Deus são marcam seus escritos.
A independência do Evangelho de João dos demais é também evidente; aproximadamente 92% do material que constitui o Evangelho de João não pode ser encontrado nos Sinóticos. 

Data
 
O Evangelho de João deve ter sido escrito entre 85 e 95 d.C., quando o autor era uma das últimas testemunhas oculares de Jesus Cristo, ainda vivas. Este foi também um dos últimos livros do Novo Testamento a ser escrito.
 
Evidências externas em favor de uma data pertencente ao primeiro século:

Ø  Sua presença no Diatessaron de Taciano (150 d.C.), – que se tratava de uma “harmonia” ou síntese dos quatro Evangelhos do Novo Testamento em uma narrativa combinada da vida de Jesus.
Ø  Também, a sua presença parcial no Papiro Rylands (135 d.C.), revela sua ampla utilização desde o início da primeira metade do século II.
 
Propósito
 
João apresenta a Jesus Cristo como o Filho de Deus encarnado, que vivifica a todo aquele que nele crê. Seu objetivo é duplo: evangelizar e doutrinar. Não tem em vista alcançar somente os judeus, mas leitores de diversas culturas, do mundo inteiro. Além de formação judaica e principalmente o íntimo discipulado com Jesus aliados à sua
idade avançada e seu ministério na Ásia o qualificaram para escrever o mais universal Evangelho. 
 João procura salientar a diferença que faz a postura assumida pelos homens diante de Jesus Cristo, isto é, entre os que creem e os que não creem em Jesus Cristo (1.11-12; 3.16; 20.30-31).
 
Características especiais

Ø  Este é o Evangelho mais rico dos discursos de Jesus, não traz parábolas, e só descreve sete milagres de Jesus, embora registre que muitos outros sinais foram realizados por Ele (20.30-31). Dos sete milagres registrados por João, cinco não constam nos Sinóticos.
Ø  O Evangelho escrito pelo Apóstolo João é o necessário, providencial e intencional complemento dos Sinóticos.
Ø  João devota-se a mostrar o propósito expiatório da vinda e da morte de Jesus Cristo.
Ø  João mostra a essencialidade de Jesus à existência humana, pois Jesus é: “A Fonte da” Água Viva (4.10); O Pão (6.35); A Luz (8.12;9.5); A Porta (10.7); O Bom Pastor (10.11-14); A Ressurreição  e A Vida (11.25); “O Caminho, a verdade e a vida” (14.6); A videira (15.1).
Ø  Neste Evangelho, os milagres de Jesus, além de credenciais messiânicas, são também ilustrativos de verdades redentoras (Jo 6.1-15 c/ 22-58; 11.1-46). 
Ø  O Evangelho de João, também, ocupa-se especialmente com o tema da glorificação de Jesus Cristo (7.39;13.31-32;16.14;17.1-5).
 
Não obstante sua simplicidade da perspectiva literária, o Evangelho de João é o mais teológico dos evangelhos; ele é profundo, sem deixar de ser extremamente prático:

 João destaca a importância da FÉ em Jesus Cristo, para a obtenção da VIDA ETERNA.
Ø  Refere-se à importância da REVELAÇÃO divina em Jesus Cristo (1.1-14), e na Palavra escrita (5.39 e 17.17).
Ø  Trata do AMOR como a motivação divina para a salvação do pecador, a marca da relação entre o Pai e o Filho, e a marca da comunhão entre os discípulos.
Ø  Considera extensamente a respeito da SOBERANIA DE DEUS, na salvação do pecador.
Ø  Demonstra a DIVINDADE e HUMANIDADE de Cristo, como naturezas distintas de uma única pessoa, a partir da introdução do evangelho. 
Ø  O Evangelho de João tem a habilidade de comunicar-se, igual e eficientemente, com o mais sofisticado pensador e com aquele que possui a mais básica e prática educação.
 
Esboço
 
O Deus Encarnado
Entre os Homens 1-12

1
O Messias
2
A Autoridade
3
O Novo Nascimento
4
A Água Viva
5
A Missão do Messias
6
O Pão da Vida
7
A Fonte da Água Viva
8-9
A Luz do Mundo
10
O Bom Pastor
11
A Ressurreição
12
A Reação dos Homens
Entre os Discípulos 13-17
13
Humildade e Amor
14
O Outro Consolador
15
A Videira
16
A Missão do Consolado
17
A Oração Sacerdotal
Paixão 18-19
18
Sofrimento
19
Morte
Vitória 20-21

  Ressurreição


























João 1.1-18 – A Encarnação de Deus
 
Dentre os quatro Evangelhos é o de João que começa com a referência à existência pré-encarnada de Jesus Cristo, o que é muito consistente com seu propósito de realçar a Divindade de Jesus. João não menciona exatamente o nascimento de Jesus Cristo. Ele conecta imediatamente a eternidade e o tempo, o céu e a terra para falar da “encarnação” do Verbo, em um conciso e riquíssimo parágrafo.
 
O Evangelho de João não vai descrever os fatos que estão imediatamente relacionados ao nascimento de Jesus Cristo, o que os Evangelhos de Mateus e Lucas já faziam. Do relato da encarnação do Verbo, João logo passa a relatar o testemunho público do profeta João Batista.
  
A maneira como João começa o seu Evangelho lembra claramente o modo como foi iniciado o livro de Gênesis – “No princípio”. Assim, João coloca em paralelo as duas grandes obras de Deus:

Ø  A Criação (concluída no sexto dia da semana da Criação);
Ø  A Redenção (inconclusa, mas em pleno andamento, rumo à sua gloriosa conclusão, na volta de Jesus Cristo).
 
A primeira referência de João a Jesus Cristo é mediante o uso da palavra “Verbo”. A palavra grega “logos” significa “palavra” (verbo), e é usada no NT significando declaração, tema, discurso, instrução, ensino e
conhecimento. A determinação do significado depende muito de seu contexto imediato. No Evangelho de João significa a Palavra, isto é a Palavra em uma pessoa específica. Como João usa a palavra verbo em lugar de Jesus, seu propósito é realçar que é em Jesus que encontramos o conhecimento mais necessário, desejável e valioso que o homem pode ter – o conhecimento de Deus e do propósito de Suas obras (Criação e Redenção). João indica que Jesus é a perfeita revelação de Deus; e que revelar-se por meio de Jesus é um eterno propósito de Deus.
 Primeiramente João afirma a Divindade do Verbo (1-3) que:

Ø  Era no princípio (Ele existe antes da Criação, não foi criado);
Ø  Estava com Deus (Há uma distinção de pessoas no Ser de Deus);
Ø  Era Deus (Ele é Deus); 
 
Em segundo lugar, João afirma a imprescindível participação do Verbo na Criação (3). O Verbo participou na criação de absolutamente todas as coisas que vieram à existência, conforme Matthew Henry em seu Comentário Geral da Bíblia, “do mais elevado anjo até ao menor verme”.   O Verbo para João não é uma palavra abstrata, nem o nome de um princípio ou poder, muito menos uma simples expressão verbal. O Verbo a quem João se refere é uma Pessoa. Isto fica claro pela:

Ø  Relação do Verbo com Deus (“o Verbo estava com Deus”);
Ø  Absoluta identificação do Verbo como Deus (“o Verbo era Deus”);
Ø  Participação distinta do Verbo na Criação (“todas as coisas foram feitas por meio dele”)
 
O uso da palavra “Verbo” para designar a Jesus Cristo pré-encarnado, como já foi sugerido, deve indicar o eterno propósito do Deus Triuno em se revelar aos homens através do Verbo – Deus, o Filho. O verso parece confirmar isto, pois é dito que “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens”. O Verbo é para os homens a única fonte de vida e luz. Vida que, como é claramente enfatizado neste Evangelho, significa comunhão com Deus; e luz que significa o conhecimento de Deus. 
 
Parece que na economia divina o Verbo (o Filho) é o comunicador da Vida e Luz (4-5) que procedem do Deus Triuno. Certamente, como coagente da Criação, o Verbo é a fonte de toda a forma de Vida e Luz no Universo.
Porém, o foco de João não é a vida biológica e luz física, mas a comunhão com Deus (Vida), por meio do conhecimento de Deus (Luz). O Verbo (Deus, o Filho) foi enviado por Deus, o Pai; para que, conhecendo-o, os homens conhecessem a Deus e gozassem de vida eterna (João 17.3).
  A ideia aqui, e isto precisa ser enfatizado, não é de que o Verbo seja um mero meio de comunicação da Vida e Luz, mas que Ele, como pessoa do Triuno ser divino, é a própria Vida e Luz. Contudo, além disso, Ele exerce uma especial função de comunicar aos homens a Vida e Luz.  
 
O Antigo Testamento afirma que Deus criou todas as coisas pela sua Palavra (Verbo) (Sl 33.6). E ali, a ênfase parece ser ao meio e instrumento, mas o Verbo (Palavra) em João é o coagente da Criação – o Verbo que também se “fez carne”, e que é o “unigênito do Pai” (1.14). 
 
Este paralelo entre a criadora Palavra instrumental (em Gênesis) e o Criador Verbo divino (em João) pode indicar: 

A centralidade do Filho, eternamente intencionada pelo Triuno Ser divino, em sua relação com a Criação;
E, especialmente o eterno propósito do Triuno Ser divino em expressar
se ou revelar-se ao homem através do Filho.

  Assim, considerando que a Árvore da Vida, plantada no Paraíso:

Ø  Conferia ao homem, mesmo antes deste haver pecado, aquilo que somente o Verbo (Jesus Cristo) pode dar – a vida (Jo 3.15-16; 4.10; 5.25-26; 6.35,40; ...);
Ø  Proporcionava ao homem o oposto do que a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal lhe causou – a morte;
Ø  E, portanto, a Árvore da Vida é também um tipo de Jesus Cristo; 
 
Parece razoável concluir que a Queda do homem:

Não foi a causa pela qual o Deus Filho se tornou o doador da Luz (conhecimento de Deus) e Vida (comunhão com Deus), mas um eterno desígnio divino independente da Queda;
A Queda, entretanto, tornou o cumprimento deste desígnio algo de infinito preço – a morte do Deus Filho encarnado.
  Uma adicional razão para crermos que a comunicação da Vida e Luz ao homem, conforme o eterno desígnio do Triuno Deus seria, em qualquer circunstância, uma especialidade da Segunda Pessoa da Trindade é sua particularidade como o Eterno Filho de Deus, que o identifica com aquilo em que os redimidos são transformados (1.12-14):

Ø  Ele é o Filho Unigênito;
Ø  Aqueles são os filhos mediante a regeneração e adoção.
 
João faz da palavra “Verbo” um título para Jesus (1 Jo 1.1; Ap 19.13). O Verbo é a vida e luz dos homens porque Ele é a perfeita, viva e pessoal revelação de Deus ao homem, conforme seu imutável e eterno propósito.
 Portanto, pelo que temos visto, a palavra “Verbo” conforme é usada por João tem um significado bem diferente do uso que alguns filósofos gregos fizeram da mesma palavra. João não toma a ideia do Verbo da filosofia grega, mas do Antigo Testamento, reportando-se ao Princípio da Revelação de Deus na Criação.
  Em seu Evangelho, o Apóstolo João apresenta e distingue enfaticamente João Batista, o profeta precursor meramente humano, do Verbo Divino, Jesus Cristo (6-9). Aqui podemos ver a conexão entre o Evangelho de João e o livro do Profeta Malaquias. O “meu mensageiro” (Ml 3.1) é Elias (Ml 4.5), que é uma referência simbólica a João Batista (Jo 1.6). O “Anjo da Aliança” (Ml 3.1) é o “Sol da Justiça” (Ml 4.2); e ambos se referem ao Verbo, Jesus Cristo (Jo 1.1-9).
  É o conhecimento de Deus (Luz) que faz o homem nascer, “não do sangue, nem da vontade da carne, mas de Deus” (1.13). Este é o Novo Nascimento, o nascimento para a Vida Eterna (perdida no Paraíso, isto é, que não foi alcançada, como poderia, no Paraíso), que será assunto proeminente em todo o Evangelho de João. É por este nascimento somente que o homem se torna filho de Deus (1.12). Quando um homem adota um filho, acontece somente um procedimento formal, nada é mudado quanto a natureza do filho adotado. Nossa adoção pelo Pai Eterno é diferente; ela não acontece sem que Deus nos faça nascer de novo, regenerar para a Vida Eterna.
Nossa comunhão com Deus é estabelecida, não temporariamente, mas eternamente e não somente por aproximação, mas por nos tornar participantes de Sua natureza (2 Pe 1.3-4). Afinal, para sermos feitos “filhos de Deus”, fomos regenerados mediante a incorruptível semente – “a palavra de Deus” (1 Pe 1.23).
  A expressão “o Verbo se fez carne” (1.14), não pode ser entendida como se o Verbo houvesse se transformado em algo que não era antes. O correto significado é que o Verbo assumiu uma natureza sem sofrer qualquer perda, mudança ou enfraquecimento em sua essência divina. Portanto, carne também não pode significar a natureza pecaminosa do homem (como acontece em algumas outras passagens das Escrituras), mas simplesmente a natureza humana. Os Evangelhos de Mateus e Lucas, no relato do nascimento de Jesus Cristo, enfatizam o caráter sobrenatural da concepção do Verbo, e consequentemente a ausência de pecado em sua natureza humana (Lc 1.35).



  No testemunho público do profeta João Batista, a absoluta superioridade de Jesus Cristo sobre os profetas é declarada:

Ø   Por sua divindade “(Ele) já existia antes de mim” (1.15);
Ø  Por sua incomparável habilidade revelacional (1.14,16-18).
 
Este conhecimento de Deus, em parte já revelado nas Escrituras do AT, foi trazido à sua plenitude na encarnação do Verbo (porque Ele é a Palavra, revelação ou expressão de Deus em Pessoa; Ele é Deus); este conhecimento está guardado, e é comunicado nas Escrituras completas, isto é, do AT e NT. Este é o ponto culminante da revelação redentiva. No Verbo encarnado, Jesus Cristo, vemos Deus, vemos a glória de Deus em seu mais refulgente explendor (Hb 1.1-3).
  O fim da preeminência de Israel como Povo de Deus, e a emergência do caráter universal da Igreja da nova aliança, que acolhe multidões de gentios, já é antecipada neste prólogo do Evangelho de João (10-11).

João 1.35-51 – Os Primeiros Discípulos de Jesus Cristo
 
João cumpria fielmente o seu ministério, pregando a Jesus Cristo e lhe preparando e enviando discípulos, que por sua vez também publicariam seus próprios testemunhos a respeito de Jesus:

Ø  João Batista – “Eis o Cordeiro de Deus!
Ø  André – “Achamos o Messias”.
Ø  Filipe – “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei”
Ø  Natanael – “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!”
 
Antes de se encontrar com Filipe e Natanael, Jesus havia decidido ir para a Galileia (Jo 1.43). Os referidos testemunhos acima foram apresentados antes mesmo que Jesus começasse a realizar a série de inumeráveis sinais
miraculosos, que vieram em confirmação aos testemunhos dados por quem o conhecera.
 
João 2.1-12 – O Primeiro Milagre de Jesus Cristo
 
A Natanael, Jesus já havia dado uma pequena amostra de que era o Messias, declarando saber algo que somente Natanael e Deus poderiam saber. Assim, Natanael imediatamente fez sua confissão de fé em Jesus (1.48-49).
Jesus então declarou que muitas outras incontestáveis evidências seriam dadas de que Ele era o Messias – seu ministério haveria de ser acompanhado de uma gloriosa manifestação de sinais miraculosos (1.50-51). 
Dois momentos são característicos na história de Israel em relação ao ofício de Profeta, e tempos e Moisés e Elias-Eliseu. É, portanto, significativo que o início do ministério público de Jesus Cristo como profeta seja marcado pela
aviso de que seria um ministério farto de sinais miraculosos, com o propósito de demonstrar que Jesus, mais que um verdadeiro profeta, é o Profeta (Deuteronômio 1815-19).
 
Três dias depois do encontro com Natanael, Jesus realizou o primeiro de uma incontável série de milagres – a transformação de água em vinho em uma festa de casamento, em Caná da Galileia, antes de iniciar seu posterior ministério concentrado naquela região. 
Este milagre tem uma característica peculiar, não é a cura de uma enfermidade, que caracterizou a maioria dos sinais miraculosos de Jesus Cristo; isto é a eliminação ou reversão de um mal comum e generalizado, que, no mínimo, causa desconforto e dor.
O primeiro milagre, em Caná da Galileia afeta e muda a natureza de um elemento, como a multiplicação dos pães e peixes que mudou processos naturais. Porém, a transformação da água em vinho, provê algo que não parece absolutamente necessário e urgente, como são a cura e alimento, mas, está conectado às ideias de comemoração, festa e alegria.
 
João 2.13-25 – O Zelo de Jesus Cristo pelo Culto – 1ª Purificação do Templo
 
Este é um período de preparação imediata e começo do ministério público de Jesus Cristo, que basicamente ocorreu na Judéia. Então, Jesus logo saiu da Galileia e voltou para a Judéia em virtude da aproximação da festa da Páscoa. 
 Ao chegar ao Templo o Messias foi tomado de indignação pelo grande desrespeito para com o culto a Deus que se manifestava na forma como as dependências do templo estavam sendo usadas para negócios. Certamente, o negócio era a pretexto de promover o próprio culto, facilitando a vida dos cultuadores. 
 Naqueles dias, já havia muitos que não viviam propriamente da agricultura ou da criação de rebanhos, alguns moravam muito distantes do templo, e, portanto, precisavam comprar os animais prescritos para os sacrifícios. O problema não era a compra, mas o lugar onde a compra se realizava, e as consequências que desta prática no Templo. Naqueles dias os judeus estavam realizando no Templo uma atividade comercial que nunca fora ordenada; Jesus, contundentemente, a condena.
  Esta passagem nos adverte contra um risco a que a Igreja – a manifestação do Reino de Deus (em seu aspecto redentivo) entre as nações está constantemente sujeita – isto é, associar a Igreja a interesses e atividades comerciais. A Igreja desempenha suas funções, responsabilidades e missão através de doações. É isto o que a Palavra de Deus estabelece. Certamente haveremos de prestar contas a Deus pela implementação, na Igreja, de nossas “grandes ideias”, proibidas ou não ordenadas por Deus em sua Palavra.
  Jesus procedeu desta mesma forma duas vezes em seu ministério, conforme o relato dos Evangelhos; ao final de seu ministério, ele agiu de modo semelhante (Mt 21.14-17). A atitude de Jesus Cristo foi surpreendente. Imaginemos, um judeu desconhecido, não é sacerdote, não é uma reconhecida autoridade civil, nem ao menos um farizeu; repentinamente ele entra no Templo e autoritariamente suspende uma atividade que já estava estabelecida por longa data. Jesus agiu como o Messias (Rei-Sacerdote-Profeta).
Certamente a atitude de Jesus causou grande espanto; mas, atividade que o Senhor reprovou foi depois retomada. Contudo, certamente a partir de então Jesus passou a ser motivo de grande atenção e preocupação, especialmente da parte dos líderes religiosos e civis, na Judéia, e em Jerusalém.
  Os discípulos de Jesus viram em sua atitude uma evidência de que Ele era o Messias, lembrando-se do que a respeito dEle fora referido anteriormente (Sl 69.9). Porém, os demais circunstantes simplesmente não entendiam o que estava acontecendo.
 Contudo, este acontecimento também deu oportunidade a que Jesus, desde o começo de seu ministério público, anunciasse sua morte e ressurreição, outro importante e central acontecimento na vinda do Messias, porém relutantemente aceito, até pelos próprios discípulos de Jesus. 
 Jesus anunciou sua morte e ressurreição quando respondeu ao pedido de um sinal que o autorizava a fazer o que havia feito no Templo, em relação à venda de mercadorias; Jesus então se referiu à sua morte e ressurreição, falando de seu corpo como o santuário que seria derrubado, mas reedificado em três dias. Tal associação que Jesus faz entre si mesmo e o Templo de Jerusalém é de extrema importância, e não pode ser ignorada. Ela enfatiza que é nele somente que se cumpre, de fato e plenamente, o propósito de Deus em habitar com a criatura humana, conforme simbolizado no Templo. Note-se que o assunto da “habitação de Deus com os homens”, em Jesus Cristo, é especialmente importante no Evangelho de João.
  Uma das características do Evangelho de João é descrever pouquíssimos milagres, ao contrário dos Sinóticos. Porém, João reporta que Jesus realizou muito mais milagres do que aqueles poucos que ele registrou em seu Evangelho (2.23-25). 
  O final deste parágrafo (2.23-24) também nos alerta para o fato de que há uma forma superficial de crer em Jesus, que certamente não é salvadora (12.42-43). Porém, mesmo a fé genuína, embora seja frágil, é gerada, alimentada e renovada por Deus, o Espírito Santo, mediante a instrumentalidade da Palavra de Deus (6.60-71). 
 
João 3.1-21 – O Encontro entre Jesus Cristo e Nicodemos
 
Um fariseu, chamado Nicodemos, se interessou em conhecer mais proximamente aquele que havia expulsado os que haviam feito do Templo uma “casa de negócio”, e estava realizando sinais miraculosos em Jerusalém. 
No encontro entre Jesus e Nicodemos, Jesus fala sobre o Reino de Deus e o único modo de entrar no Reino de Deus. O Evangelho de João é o que menos usa a expressão Reino de Deus ou Reino dos Céus. Marcos vem em segundo lugar com menos citações destes dois termos, comparados à abundância do uso do termo em Mateus e Lucas. Marcos se concentra mais nas ações que nos discursos de Jesus; João é o Evangelho mais concentrado nos discursos de Jesus; porém seu propósito não é tanto informar sobre as características do Reino de Deus, mas principalmente sobre o único modo de entrar e permanecer no Reino de Deus – o “novo nascimento”.
  Nicodemos perguntou o que significava “nascer de novo”; Jesus, para explicar a Nicodemos, disse que o “novo nascimento” acontecia por meio “da água e do Espírito”. A água e o Espírito já haviam sido associada na pregação de João Batista, quando comparou o “seu” batismo (com água) e o batismo de Cristo (com o Espírito Santo). O batismo com água de João prefigurava o batismo com o Espírito Santo de Jesus (1.26-34). Ambos os batismos estavam associados à purificação dos pecados, o batismo com água como símbolo, e o batismo com o Espírito Santo (mediante o sacrifício do Cordeiro) como a realidade (1.29-31). Ver também Atos 2.38 e Tito 3.5-6.  

  Esta invisível ação purificadora e regeneradora do Espírito Santo em cada pessoa – “novo-nascimento” está totalmente vinculada ao sacrifício do Cordeiro (1.14-18). Conferir 1.12-13:

Ø  É possibilitada pelo exclusivamente pelo sacrifício do Cordeiro;
Ø  Produz fé específica no sacrifício do Cordeiro. 

Recebemos a “lavagem regeneradora e purificadora do Espírito Santo” em consequência do sacrifício do sacrifício do “cordeiro que tira o pecado do mundo”. 
Conforme a vontade do Pai, primeiro o Filho desce do Céu e realiza sua obra sacerdotal, em favor de pecadores; depois, também, desce o Espírito que santifica a Igreja. Isto é muito consistente e evidente no Evangelho de João.




João 3.22-36 – O Testemunho Conclusivo de João Batista
 
Jesus já havia iniciado o seu ministério público; e João estava próximo do encerramento de seu ministério; e o seu aprisionamento estava próximo (Lc 3.19-20). Jesus já estava cercado de muitos discípulos; dos quais, boa parte era proveniente do trabalho de João Batista. Então, mediante o comentário de seus discípulos sobre do crescimento do número dos eram batizados e se tornavam discípulos de Jesus, João reafirma que Jesus é o Cristo – o noivo, cuja noiva é o redimido povo de Deus (3.27-30). 

João 4.1-42 – O Encontro de Jesus com os Samaritanos
 
Jesus começou seu ministério público na Judeia, após seu batismo por João. Durante algum tempo João e Jesus estiveram pregando o Evangelho (“Arrependei-vos porque o reino de Deus está próximo”) e batizando. O Evangelho de João esclarece que não era propriamente Jesus quem batizava, mas os seus discípulos. 
  Na Judeia, o número dos que eram batizados por João aumentava; e aumentava também o número dos discípulos de Jesus (que também recebia dos que eram enviados por João, como já foi mencionado). Por isso, Jesus decidiu deixar a Judeia e voltar à Galileia, mas no caminho, passando por Samaria, Jesus encontrou uma mulher samaritana, com quem teve um grande diálogo:

Ø  Jesus fala da água purificadora e regeneradora do Espírito Santo, que
Ø  Ele somente pode dar ao homem (4.9-15 com 7.37-39);
Ø  Jesus também fala do grande momento que havia chegado com a sua vinda; quando pelo cumprimento das promessas relativas a Ele – o Messias e o iminente “derramamento do Espírito Santo” –, o culto perderia em grande parte os seus elementos simbólicos para ganhar em realidade (4.19-26).

Esta mulher falou sobre seu encontro com Jesus a alguns dos habitantes de Sicar, estes vieram encontrar-se com Jesus e pediram a Jesus que ficasse com eles um tempo. Jesus atendeu e ficou dois dias ali, e muitos samaritanos creram que Jesus Cristo é “o Salvador do mundo”.
  É interessante o padrão que podemos observar nos primeiros capítulos do Evangelho de João:

Ø  Alguém pessoalmente conhece a Jesus; 
Ø  Este dá um testemunho a respeito de Jesus;
Ø  Este mesmo traz alguém consigo para ver a Jesus: João, André, Filipe e a Samaritana (4.28-29).
 
Enquanto a mulher samaritana voltou à cidade para trazer outros ao encontro de Jesus, Este falou aos discípulos sobre o serviço a Deus:

Ø  Sua absoluta prioridade (34);
Ø  Seu caráter urgente (35);
Ø  Sua grande recompensa (36);
Ø  A simplicidade e humildade devida aos servos (37-38)
 
Conclusão: Jesus agora concentrará seu ministério na Galileia (Mt 4.12-17; Mc 1.14-15; Lc 4.14-15; Jo 4.43-45).

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Apresente as características necessárias para quem é "discipulador" e para quem tem "discipulidade" e as consequências de um discipulado no modelo bíblico Moisés-Josué. Para entendermos melhor essa relação entre discipulador e discípulo, havendo, assim, a discipulidade, vamos pautar alguns conceitos isoladamente, e assim, em fim, chegar a uma resposta plausível sobre o questionamento feito. Discipulado Um dos significados que atribuímos a esta palavra é: conjunto de disciplinas de um mestre. Desta forma, para que isso ocorre, necessita de: 1.       Relacionamento (não há discípulo se não houver relacionamento mútuo. Ou seja,   muitos querem fazer discipulado, mas poucos querem se envolver, assim o relacionamento fica corrompido - Cl 3:12-16 ); 2.       Intimidade (assim como o discipulado de Jesus - fazer morada – assim deve ser o nosso. Em outras palavras, gerar intimidade. Seguindo o exemplo do Mestre, que durante três anos andou c