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O Evangelho de Marcos




Autoria
 
O nome do autor deste Evangelho é João Marcos. Embora não fosse um dos Doze Apóstolos, ele pode ter sido um dos discípulos diretos (além do círculo apostólico) de Jesus e testemunha ocular de alguns acontecimentos na vida e ministério público de Jesus, especialmente de sua última semana e após a ressurreição. É até possível que Marcos tivesse conhecido a Jesus em seu primitivo ministério na Judeia (conforme registram os primeiros capítulos de João). 
  Além disso, João Marcos esteve associado a algumas importantes figuras da Igreja primitiva:

  ü  Era filho de uma mulher, em cuja casa muitos crentes estiveram congregados (At 12.12). 
  ü  Foi companheiro de Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária (At 13.5). Foi motivo de separação entre Paulo e Barnabé, quando este então o levou consigo para Chipre (15.39). Porém, Paulo, em outra ocasião, deu importante testemunho da fidelidade de Marcos (2 Tm 4.11). 
  ü  Foi pessoa muito chegada ao apóstolo Pedro, que lhe chama “filho na fé” (1 Pe 5.13). 
 
Esta proximidade com Pedro, um Apóstolo, que é também um dos três do círculo mais próximo de Jesus Cristo, dá a Marcos importante credencial para escrever um dos quatro Evangelhos.
 
Marcos também não menciona seu nome como o autor do Evangelho que lhe é atribuído. Entretanto, a tradição da Igreja Antiga é unânime quanto a sua autoria. Papias (Pai Apostólico), que viveu na primeira metade do segundo século da era cristã, citado por Eusébio, provê um dos mais antigos testemunhos da autoria de Marcos, dizendo que este “como intérprete de Pedro, registrou fielmente as memórias do Apóstolo”.  
Portanto, o Evangelho de Marcos está muito bem respaldado na autoridade do Testemunho Apostólico. Marcos pode até ter sido pouco mais que simplesmente o redator do que fora antes pronunciado pelo Apóstolo Pedro.
 
Data
 
Embora o Evangelho de Marcos também seja de data imprecisa. Conforme o Pai da Igreja - Irineu, Marcos escreveu depois da morte do Apóstolo Pedro,  que deve ter ocorrido entre 63 e 64 d.C; esta pode ser também a data aproximada da redação final e publicação do Evangelho de Marcos, que certamente já colecionava muitas notas tomadas, principalmente da parte do Apóstolo Pedro.
  Portanto, muito cedo na história e vida da Igreja, o Evangelho de Jesus Cristo já havia recebido a forma escrita, que logo foi reconhecida como canônica. Este respeito “canônico” dado aos Evangelhos se deve em parte ao fato de que eles testificam o cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento, especialmente quanto à chegada do prometido Messias, e em parte também por causa do peso do Testemunho Apostólico.
 
Propósito
 
Como indica o seu nome, o primeiro judeu e o segundo romano, João Marcos estava entre as duas diferentes culturas. Portanto, ele era alguém habilitado para apresentar o Cristo, prometido e vindo, entre os judeus e ao mundo romano.   Como evidências de que Marcos tenha escrito especialmente para apresentar o Evangelho de Jesus Cristo aos romanos, podemos citar:

  ü  O registro de detalhes relativos a lugares e costumes judaicos, que eram desconhecidos para os gentios de modo geral
  ü  O Seu frequente uso de termos latinos (legião, centurião)
  ü  A tradução de expressões aramaicas e a explicação de termos gregos para os seus leitores latinos
 
Ele apresenta Jesus Cristo como o poderoso ministro (servo) de Deus, ocupado no estabelecimento do Reino de Deus entre os homens (Mc 1.35-39). Isto certamente significava um introdutório ponto de contato com o pensamento romano.
  Como um dos Sinóticos, Marcos tem um arcabouço semelhante ao de Mateus e Lucas; porém, é bem mais resumido. O Evangelho de Marcos não registra os longos discursos de Jesus, e se concentra na sucessão de atividades, especialmente nos milagres realizados por Cristo. Isto, contudo, não significa que Marcos não se importasse em dizer quem era Jesus, ou o que principalmente Ele viera fazer, pois Marcos também toca temas como:

  ü  A divindade de Jesus Cristo (1.1,3,7,11,24; 2.1-12, 28; 4.35-41; 12.37);
  ü  A morte substitutiva de Jesus (10.45; 14.23-24, 61-64).

  Estes temas são centrais e permeiam a apresentação que Marcos faz de Jesus como o Servo-Ministro de Deus, aquele que vem para estabelecer os Reino de Deus entre os homens.
 O ministério público de Jesus Cristo é retratado em contínuas ações de Jesus, chamando instruindo e liderando os Apóstolos, realizando milagres de curas e domínio da natureza, envolvendo-se com pessoas e ensinando às multidões.
  Enquanto o Evangelho de João é o mais teológico ou doutrinário, o Evangelho de Marcos é o mais descritivo e prático. Marcos também não se preocupa em apresentar a metodologia de seu trabalho (embora ele pudesse fazê-lo, se estivesse de acordo com seu objetivo), como fez Lucas; nem se empenha em fazer extensa conexão com o Antigo Testamento, assim como o fizera Mateus, embora o Evangelho de Marcos tenha igualmente profundas raízes no AT.
 O Evangelho de Mateus é claramente escrito para quem tem algum conhecimento do AT; o Evangelho de Marcos é até para quem não tenha qualquer contato ou conhecimento do AT. Mateus é um desafio a voltar ao AT e confirmar as promessas relativas ao Cristo; o Evangelho de Mateus é um convite e introdução ao conhecimento do AT como a origem da promessa messiânica.
  Embora cada Evangelho seja completo e preciso na apresentação de Jesus Cristo, e cada um capaz de levar pessoas à fé em Jesus, mediante a ação regeneradora do Espírito Santo, juntos, os Evangelhos nos dão uma harmoniosa e gloriosa figura do Senhor Jesus Cristo. Assim como as Cartas do NT nos dão outros detalhamentos de diversos aspectos desta majestosa apresentação de Jesus Cristo.
 
Características especiais
 
O Evangelho de Marcos é o único a registrar que, quando da prisão de Jesus, um jovem o seguia, coberto unicamente com um lençol de linho (pano fino). Alguns leitores vêm aqui uma menção velada ao próprio autor. João Marcos era filho de uma rica mulher, moradora de Jerusalém que, posteriormente, veio a hospedar reuniões da igreja em sua casa (At 12.12). Se Marcos não conhecia Jesus antes, pode ter sido aí o começo de sua relação com os principais eventos do Evangelho.
Há comentaristas que até sugerem ter sido em sua casa que teria acontecido a última Páscoa e instituição da Santa Ceia e, também, a casa em cujo cenáculo estavam os discípulos reunidos quando se cumpriu a promessa do derramamento do Espírito Santo.
  Notamos neste Evangelho a ausência de uma genealogia de Jesus Cristo, presente nos outros dois Sinóticos. Isto também é consistente com o objetivo de se comunicar com os romanos, revelando o poderoso Servo de Deus em suas diligentes ações. Para os cidadãos romanos que desconheciam detalhes do AT, a genealogia de Cristo não seria, a princípio, de grande importância.   
A brevidade característica com que Marcos descreve a sucessão dos fatos, usando até palavras como “logo” e “imediatamente”, torna possível o seu arranjo mais cronológico, menos característico dos outros Evangelhos Sinóticos. 
  Além de ser o mais breve, Marcos é o Evangelho Sinótico que contém menos material exclusivo; somente cerca de 7% de seu conteúdo não pode ser encontrado nos outros Evangelhos.
  Entretanto, esta brevidade se contrasta com presença de certos detalhes, como informar a idade da filha de Jairo, ressuscitada por Jesus (Mc 5.52), ou menção da “relva verde” em que se assentara a multidão miraculosamente alimentada por Jesus (Mc 6.39).
Tal detalhamento, encontrado em muitas outras passagens do Evangelho, mostram que Marcos ou foi testemunha ocular, ou foi imediatamente suprido por testemunhas oculares, dentre a principais certamente Pedro ocupa o primeiro lugar.
  Estes detalhes não poderiam ser criações de Marcos, pois seu estilo é extremamente direto; sua linguagem não tem o polimento literário do Evangelho de Lucas e de Mateus.
  Em suma, Marcos apresenta Jesus aos pragmáticos Romanos, que politicamente dominavam o mundo, com grande habilidade; podiam não ignorar a “expectativa messiânica”, mas para eles as Escrituras não tinham o mesmo valor que tinha para os judeus. A intenção parece ser anunciar o Reino de Deus sendo estabelecido por Jesus Cristo – o perfeito, eficiente e poderoso Servo de Deus; o Reino que durará para sempre, em contraste com todos os reis e reinos deste mundo.


Esboço

O Poderoso Servo de Deus
Exerce Diligentemente o seu Ministério no Reino de Deus
1-13
1
Começando a Pregar  Arrependimento e Fé
2-3
Mostrando a Sua Autoridade por meio de Milagres
4
Ensinando sobre o Reino de Deus, por meio de Parábola
5-6
Pregando e Enviando Pregadores, e Operando Milagres
7
Confirma sua Autoridade e Ensino com mais Sinais Miraculosos
8
Reconhecido como o Cristo, Anuncia a sua Morte e Ressurreição
9-10
Ensinando Sobre os Valores do Reino de Deus
11-12
Em Jerusalém, Censura e Adverte os Maus Servos
13
Pregando a Certeza do Pleno Estabelecimento do Reino de Deus

Cumpre Perfeitamente o seu Ministério  no Reino de Deus
14-16

14
Traído, Abandonado e Injustiçado
15
Morto e Sepultado
16
Ressuscitado, Ordena a Pregação do Evangelho do Reino





                                         


                                              Messias                Hebraico



Ungido                                                       



                                              Cristo                   Grego

 










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