Pular para o conteúdo principal

Período Interbíblico



Antes de entrarmos no estudo do Novo Testamento, devemos fazer um link com o Antigo e mencionar o que chamamos de Período Interbíblico. Porém, segundo Enéas Tognini[1], vale lembrar que o livro de Malaquias termina com a promessa do percurso do Messias (cf.: Ml 3.1; 4.4-6). Com isso, vale afirmar que em Mateus 3.1 temos o cumprimento fiel desta profecia. No entanto, entre tal profecia e seu cumprimento se passaram, mais ou menos 400 anos – conhecido, como já fora mencionada, Período Interbíblico. 
Etimologicamente significa “entre a Bíblia”, ou melhor dizendo, “entre os dois Testamentos” (O Antigo e o Novo).
No fim deste período, as tribos de Israel haviam desaparecido, pois foram absorvidas pela sagacidade dos assírios. Isaías profetiza que mesmo Judá, apenas um “restante” seria salvo. Desta forma, estes os quais sobreviveram, reiniciaram seus trabalhos e continuaram a sua tradição.


Os Evangelhos

Do grego: ευαγγέλιο, que significa “Boas Notícias” ou “Alegres Novas”. Já a palavra “sinótico”, também do grego, grafada como: συνοπτική, que significa “visão idêntica” ou “simultânea”. Sendo estes: Mateus, Marcos e Lucas – os quais compartilhando um mesmo ponto de vista.

Por que há quatro Evangelhos?

Isso pode ser explicado facilmente, segundo Myer Pearlman[2], pelo fato de ter havido, nos tempos apostólicos, quatro classes representativas do povo – judeus, romanos, gregos e um corpo tomado das três classes – a Igreja.
Desta feita, cada autor dos Evangelhos voltou seu olhar para um tipo determinado de povo, conforme podemos ver a seguir:

ü  Mateus: aos judeus
ü  Marcos: aos romanos
ü  Lucas: aos gregos
ü  João: à Igreja





Com isso, para cada povo apresentou Jesus de uma determinada maneira.

ü  Mateus: apresenta Jesus como Messias, o Rei – repetição frequente das palavras “reino” e “reino dos céus”. Assim, suas omissões, adições e agrupamentos de fato servem para acentuar o propósito da missão messiânica.

ü  Marcos: descreveu Jesus como o conquistador poderoso e servo.

ü  Lucas: escreveu para o povo grego, o qual era extremamente culto, cujo ideal era o homem perfeito – assim, apresenta Jesus como este “homem perfeito”.

ü  João: ele tinha em mente as necessidades dos cristãos de todas as nações e, assim, apresenta as verdades mais profundas do Evangelho, entre as quais menciona os ensinos acerca da divindade de Cristo e do Espírito Santo (cf. At 13. 14-41 – mensagem aos judeus; At 17.22-31 – mensagem aos gregos; 1 Co 9.19-21 – ministério entre os judeus e gentios). Desta forma, apresenta Jesus como o Filho de Deus.

Por conseguinte, os Evangelhos sinóticos fornecem uma sinopse (vista geral) e tem um plano comum, diferentemente do que encontramos no Evangelho de João, pois fora escrito em base inteiramente diferente dos outros três.


O que há de diferente entre os Sinóticos e o Evangelho de João?


Os sinóticos possuem uma mensagem evangélica para os homens não espirituais; o de João contém uma mensagem espiritual para os cristãos.
2º Nos sinóticos vemos o ministério de Jesus mais centralizado na Galileia; já o de João vemos seu ministério na Judeia.
3º Nos sinóticos sobressai mais a vida pública de Jesus; já a de João revela a sua vida particular.
4º Nos sinóticos impressiona a humanidade real e perfeita de Cristo; já João revela sua divindade impressionante e verdadeira.


Os ensinamentos de Jesus


Jesus começou a ensinar por parábolas[3] quando falava do seu reino. Ele fez isso para impedir que os fariseus mistificassem as suas palavras, a fim de usá-las contra ele. O seu objetivo, em fazer isso, foi ocultar a verdade aos zombadores e opositores (cf. Mt 13.13-15) e revela-la a quem a buscasse sinceramente (v.v. 11,16).
As verdades ensinadas nas parábolas são estas:

ü  Na ausência de Cristo, o mundo inteiro não será convertido;
ü  Toda a semente do Evangelho semeada não dará fruto;
ü  O mal e o bem estarão lado a lado até a segunda vinda de Cristo.


Curiosidades: Um pouco de Contextualização Histórica e Geográfica



No período de 400 anos de silêncio – denominado de Período Interbíblico – levantou-se outro Império. Desta feita, assume o poder Alexander, o Grande, o qual deseja influenciar o mundo com a cultura e religião aos moldes da sociedade Grega – cultura helenista. A língua grega se tornou a língua oficial – mesmo os romanos tendo como língua o latim.
Assim, temos Antioquia, sendo a capital da Síria – os quais eram contrários a religião judaica – e Alexandria, fundada por Alexandre, o Grande – localizada ao centro-norte do Egito, Permaneceu como sua capital durante mil anos.
Em 332 a.C., o Egito estava sob domínio persa. Nesse mesmo ano, Alexandre, o Grande, entrou triunfalmente como vencedor do rei persa Dario III e os egípcios aceitaram-no, aclamando-o como libertador. Há que ter em conta que no Egito havia desde há muito tempo, uma grande quantidade de colônias gregas, e que, portanto, os gregos não eram considerados como estrangeiros.
Desde os reis ptolomaicos, os judeus da diáspora se estabeleceram na cidade, os quais foram atraídos pelo Museu, protegidos pela tolerância do mundo pagão em matéria de diversidade religiosa e criaram um foco intelectual ativo com um centro de estudos hebraicos. Segundo nos informam os papiros de Elefantina, a comunidade judia – que se instalou no Egito depois da tomada de Jerusalém, em 586 a.C., por Nabucodonosor II, já que existem dados de assentamento na época de Moisés.
Assim, o povo ptolomaico contribuiu para a tradução do AT para o grego – sendo esta conhecida como septuaginta.
Uma tradição muito antiga assegura que o primeiro cristão que chegou a Alexandria para predicar a nova religião foi Marcos, no ano 61 de nossa era. A mesma tradição conta que o primeiro cristão convertido foi Aniano, de ofício sapateiro. Sendo assim, Marcos curou-lhe a ferida de uma mão e ao mesmo tempo lhe  falou acerca do cristianismo. Desde esses tempos de predicação, os cristãos de Alexandria e do resto do Egito mantiveram uma grande tradição evangélica. Por fim, Marcos foi perseguido sob o mandato do imperador Nero que, no ano 62, foi martirizado e morto. Desde então até a época do imperador Trajano (começo do século II), os cristãos tiveram que ocultar suas crenças, ameaçados pelas perseguições. A partir deste momento se permitiu com tolerância estender-se por toda a cidade de Alexandria e pouco a pouco, ao longo de todo o vale do Nilo.
No tempo de Ptolomeu Epífanes (rei do Egito) vivia Antíoco Magno (rei da Síria), o qual se uniu a Felipe (rei da Macedônia) para despojar o reino egípcio – padecendo, assim, os judeus imensos constrangimentos. Neste contexto, aconteceu a Revolta dos Macabeus (martelo). Logo, a resistência passiva abriu caminho à agressão aberta. A faísca para a revolta veio da vila de Modein, noroeste de Jerusalém, onde um sacerdote, por nome Matatias, da Casa de Hasmon, vivia com seus cinco filhos, até que um oficial sírio obrigou a realizar sacrifícios pagãos. Este, por sua vez, não apenas se recusou a fazê-lo, mas, também, matou um judeu apóstata este oficial. Esse foi o motivo este sacerdote, juntamente com seus filhos, fugissem para as montanhas, onde se uniram a muitos judeus zelosos. Tal revolta foi liderada sucessivamente por três dos filhos de Matatias: Judas – também conhecido como Macabeus (165-160 a.C.), Jonatas (160-143 a.C.) e Simão (142-134 a.C). Como desfecho, o primeiro imperador romano, Cesar Augusto (ou Otávio), tomou conta de toda essa revolta, estabelecendo a conhecida Pax Romana (paz romana) – façam o que eu mando, senão vocês morrerão (27 a.C a 14 d.C.). Começando o culto ao imperador neste tempo – época que sucede o nascimento de Jesus.




[1] TOGNINI, Enéas. O Período Interbíblico. Editora e Papelaria Louvores do Coração LTDA. 7º ed. p. 15
[2] PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. Editora Vida, 2004, p. 191-200.
[3] Parábola: é o discurso que ensina uma verdade – no caso de Jesus, espiritual – usando ilustração material. Ele ensinou cerca de 40 parábolas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Perguntas e Respostas sobre Discipulado

1. Qual o objetivo principal da vinda de Jesus e em que se concentrou sua vida?    O objetivo principal da vinda de Jesus a terra foi salvar uma raça pecadora e levantar um povo que pudesse louvá-lo para sempre. Desta forma, Ele veio como servo sofredor, ao qual se doou, cuidando dos doentes, curando os abatidos e, acima de tudo,   pregou o evangelho e fez discípulos. Desta maneira, é notório afirmar que Cristo concentrou sua atenção principalmente em: Fazer discípulos. Ou seja, pessoas que aprendessem dEle e com Ele, e então, seguissem seus passos. Em Mateus 28.18-20, depois de sua morte e antes de sua ascensão, Ele nos disse: “...Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a obedecer a todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” A comissão de Cristo é u

Ministério Infantil: Perguntas e Respostas

1. O que ensina as passagens seguintes sobre a educação dos filhos. Ex.12.26,27 Dt. 4.9,10; 6.4-7; 1.18,19.   A Bíblia nos deixa bem claro que nós, como pais, devemos ensinar a nossos filhos sobre a Palavra de Deus. Em Êxodo percebemos este exemplo dos pais transmitindo a seus filhos as experiências vividas por Deus e seus santos ensinamentos. Assim como também se confirma em Deuteronômio, ao qual Moisés, no texto Bíblico, desejava que o povo de Deus não se esquecesse de tudo o que viveram e o que viram Deus fazer; advertiu, assim, aos pais que contassem aos filhos os grandes milagres divinos. Provando, mais uma vez, a importância do ensinamento. Assim, como pais, devemos viver a palavra de Deus e as ensiná-las. A chave para que nossos filhos aprendam a amar a Deus é que eles possam ver o nosso amor, dedicação e confiança ao Senhor, não apenas em vão palavras, mas sim em atitudes do dia a dia. 2. A importância que Jesus deu a criança em Mateus 18.1-14 . Jesus u

Características necessárias para quem é "discipulador" e para quem tem "discipulidade"

Apresente as características necessárias para quem é "discipulador" e para quem tem "discipulidade" e as consequências de um discipulado no modelo bíblico Moisés-Josué. Para entendermos melhor essa relação entre discipulador e discípulo, havendo, assim, a discipulidade, vamos pautar alguns conceitos isoladamente, e assim, em fim, chegar a uma resposta plausível sobre o questionamento feito. Discipulado Um dos significados que atribuímos a esta palavra é: conjunto de disciplinas de um mestre. Desta forma, para que isso ocorre, necessita de: 1.       Relacionamento (não há discípulo se não houver relacionamento mútuo. Ou seja,   muitos querem fazer discipulado, mas poucos querem se envolver, assim o relacionamento fica corrompido - Cl 3:12-16 ); 2.       Intimidade (assim como o discipulado de Jesus - fazer morada – assim deve ser o nosso. Em outras palavras, gerar intimidade. Seguindo o exemplo do Mestre, que durante três anos andou c